Saturday, August 19, 2006

fauno

...
na pedra abre-se uma ferida,
a ferida que se transforma em funda fenda
na fenda a água o vento e o sol criam e amassam a terra
e nessa terra trabalham as raízes,
até ao momento em que transformam a fenda num poço de vida,
e da vida nasce a fantasia
...
enquanto a história avança criam-se obreiros protectores
aqueles trovadores, elaborados motores,
que são capa de sacrifício,
com a função de não permitir esquecer a pedra, a água, o vento e o sol,
quando a voz própria da árvore adulta poderia sombrear seus criadores
...
sou capa de sacrifício,
e vou gastar-me no traulitar desta lengalenga,
depois de cumprida a caminhada,
serei mastigado ao som do que me virá render
e transformado em húmus, alimento contínuo da lenda,
mimesis da História que canto
com a isenção de quem descreve a jangada onde navega
e a própria remada
...
sou a pequena parte do todo,
a que definha numa fagulha,
gravando a efemera manifestaçãona casca do eterno sobreiro
...

1 Comments:

Blogger Sérgio J. F. Matos said...

Mais um belíssimo desenho, acompanhado de poesia inspirada pelo barro do céu dos deuses…

Nunca um fauno, fez tão parte da terra… Nunca a terra, foi tanto um fauno…

S.

11:34 AM  

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